domingo, 30 de janeiro de 2011

Você Merece

Encontrei na orla um cara vendendo filtros de sonhos. Refrescava-me com um picolé e ele me pegou distraída:

 - Tua "aura" é linda!

(hahahahaha)

 - Tua "aura" é incrível! Mas você precisa trabalhar o seu chakras do plexo solar. As pessoas se aproximam de você e sugam toda sua energia, bla, bla, bla...

Enfim, fiquei um bom tempo segurando umas pedrinhas pra me energizar, rezando pro meu amigo chegar logo, porque toda vez que eu largava as pedrinhas:

 - Não! Você ainda não está forte! Senta aqui. Quer dar uma olhada nos meus trampos? Meus trampos são proteção...

Antes de eu ir-me para o teatro, ele me lançou um cartãozinho dizendo que era massagista e que as técnicas dele forneciam um novo olhar sobre o mundo:

 - Você vai descobrir o paraíso dentro de você! Vai mudar sua vida! Me dá teu e-mail?
 - Ah! Mando um e-mail pra esse endereço do cartão e aí tu fica com ele, beleza?
 - Podicrê!

Fui olhar o cartão quando cheguei em casa:

"Massagem tântrica. Porque você, mulher, merece esse prazer"

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Contrastes sem contraste

Curadoriando filmes sem entender porque todas as mulheres desse diretor dedicam-se tanto a passar batom. Ele parece ter também uma predileção por sexo em elevadores e escadas e contrastes de vermelho no vermelho ou rosa. Deveras repetitivo, não fosse aquele doutor psicografando que rendeu boas risadas...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dona Flor

"Alguém há dias me perguntou o que oferecer a um hóspede de requinte de paladares nobres a quem não apetece o trivial. Num caso desses, aconselha-se servir um cágado guisado, com gosto de culpa e pecado. Mas se vosso hóspede quer ainda caça mais fina, por que não lhe servir um prato ainda mais sofrido: uma viúva bonita e moça. Eu sei de uma viúva assim, cuja cama é um deserto atravessado. Escaldante areia do desejo sem porta de saída."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O caminho do meio

Já aprendi a controlar o sonho

Se estou nas nuvens
Sei que vou cair

Ao atingir a superfície
Sempre me utilizo da queda
Pra pegar impulso
E voar ainda mais alto

E todos esse frios na barriga
Tornam a brincadeira cada vez mais excitante

Aqui não.

Mesmo tendo momentos de mar em fúria
O horizonte sempre se acomoda melhor com a linha no meio

E nem por isso deixa de ser poesia...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Fuga-cidade

Mato a saudade
Como um atirador de facas
Às avessas

Atravesso sua carne
Trêmula e febril
Com dezenas de adagas

Torno impossível
Reanimá-la

Um adeus à memória
Que guarda o sabor do silêncio!
Língua de víbora

Ao cedro
Que as cavernas dos meus sonhos
Fertiliza

Ao magma
Que incendiou um coração incandescente
E converteu seu aço em rio de prata

'Estrella fugaz'
Que se dissolve num eterno sorriso
Perdido no céu
E no tempo