segunda-feira, 5 de março de 2012

Falácias

"Eu sempre disse
Que falar dos amores do passados
É uma forma de se esconder do presente
E de fugir do futuro"

Ajeitou o chapéu
Atirou um beijo para o casal de garotas
E desceu a ladeira orgulhoso
Vaidoso daquele amor antigo

Atravessou a rua para reaver os tacos de sinuca
Reparou nos neons do puteiro acima do bar e lembrou-se que o botaram num hotel de 5a
Ele, que já há muito frequentava até mesmo os melhores lugares do aeroporto,
E que nunca perdera o gosto pelos inferninhos

Se auto-intitula o "homem da reciclagem"
E desde que ganhou a eleição
Fundou uma ONG e um clube de vivissecção

As pessoas filantrópicas por vezes perdem a noção de humanidade
Mas nem por isso deixam de amá-la
Se dizia especialista em sexo tântrico
Apesar de seu caráter deveras tétrico

De fato nenhum de suas amantes pudera comprovar essa habilidade
Visto que todas as suas demonstrações limitavam-se
A golpes duros com as pontas dos dedos
Que costumavam provocar bem mais hematomas e risos
Do que transes
Ou sequer transas
Propriamente










Oceanos

Ela
Caminha com a cesta sem pensar
Tem um caso com o corrimão
O outro dorme

Abandona os vegetais
Angula-se
com o poste
Triangula
Com o copo do licor

A sombra do chapéu
O-pressiona
Contra o nariz
No brotar da neve

Todos riem
O show do piano
Galinhas ciscam
A fonte que corre

A linha do horizonte
Entedia
Os abutres
Do seu olhar oceânico

O giro da agulha
Cerzindo
O céu em botões

À espera das ondulações
O náufrago
Agarra um pedaço de madeira

Os punhos atados
O sapato
Num pé só
E o dedo no jornal
Anunciam a fuga

A cópia queimada
As roupas esfarrapadas
E as mãos dançando
No tecido

Ela
Redesenha o colarinho sem pezar
Faz pouco caso do limão
O outro insone

Incertezas

Um capote

Em lençóis

Põe o ombro no lugar

Felicidade em pequenas coisas

Não fosse a montanha interminável de papéis


Em Rê Bordosa

Um poliedro possui 10 faces e 16 arestas

E querem que eu

Saiba o seu número de vertices

O que só me serve

Para uma abordagem criativa


- Oi. Você … saberia me dizer o seu número de vértices?


Em postais

Desenhos de saudade


Em cartas

Um “Torço para que me tragam a certeza da tua volta”


Em mim

A certeza de que nada volta

Nunca

A ser como era