segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Carne de Pato

Acordou com ele lhe pedindo gelo. 

 - Hein?
 - É que...dormi com aquele Clorets que você me deu e... bem, ele grudou na fronha.
 - Ah!

Ela tentou não pensar que estava hospedada na casa de uma amiga. Afastou do seu pensamento a recordação do dia em que a anfitriã lhe afirmava que estava inaugurando o lençol novo, presente da mãe. Respirou fundo, dirigiu-se ao freezer, destacou alguns cubos e alcançou ao rapaz tatuado.

Tentou não achar patético vê-lo esfregar o travesseiro. Lembrou-se do show, da banda e de que ele tocava guitarra pra caralho. Quando ele entrou na sala puxando as costeletas, teve pena. Mas, ao perceber que ele arrancava pêlos da cabeça, dos braços, do peito, das coxas e das mãos não pôde conter o riso. (Será que ele dormiu com o chiclete ou refestelou-se numa cera depilatória? - pensou).

Constrangido, ignorou a gargalhada e perguntou se poderia tomar um banho. OK. Ela alcançou-lhe uma toalha e avaliou os estragos na roupa de cama. Quem é que disse que pedra de gelo funciona? A internet. Calculou os gastos com a lavanderia e balanceou os acontecimentos da noite. Sentiu raiva. Respirou fundo. Passou.

Ele devolveu a toalha, falou que estava com fome e avisou que era vegetariano. Não percebeu a ruga na testa da garota e ligou a televisão. Ela, não muito adepta ao futebol, perguntou-se quem era aquele time que jogava contra o PT. Sem saber a diferença entre bandeiras de partidos políticos e do Altético Mineiro, seguiu desinteressada até o banheiro.

Não conteve a supresa ao entrar no recinto molhado por todos os lados. Estava difícil de compreender como a pessoa tinha conseguido jogar água até mesmo nas paredes e no teto. Olhou para o paninho enroladinho na porta e, decidida, interrompeu o ápice dos dedilhados que o rapaz fazia no violão. Correu-o porta afora e disse que não dispunha de beringelas para o almoço. Ora!

Queria comer seu fígado, mas preferiu o restaurante de esquina e o prato do dia: pato ao molho de hortelã.




Um comentário:

Casa da Travessa disse...

ahahahahaah

"Calculou os gastos com a lavanderia e balanceou os acontecimentos da noite. Sentiu raiva."
"Correu-o porta afora e disse que não dispunha de beringelas para o almoço. Ora!
Queria comer seu fígado, mas preferiu o restaurante de esquina e o prato do dia: pato ao molho de hortelã."

impagável, clazinha!

continue escrevendo.

love you!
lo