Sim. É domingo.
Um velho mastiga a carne, a retira da boca e a enfia na boca do mais pequeno:
- Ovelha com o tempero do vovô! - brada.
E todos brindam, salpicando a toalha com uvas isabel fermentadas.
Uma das senhoras traz no copo apenas água. E os gotejos dela estão mais para ofídicos que para alcoólicos. Ela senta-se no meio, mais para esquerda, onde está o seu 'garoto'. E recebe a 'outra' com sorriso torto e olhos forçadamente apertados revelando os pés de galinha. Preserva a moça de encostar o copo no de seu filho. Afinal de contas quem ela pensa que é...
Enquanto hoje o pernil de ovelha acompanhado de farofa, frutas secas e polenta serve toda família, Mariana não pôde jamais esquecer-se da orgia gastronômica com que foi recepcionada na primeira noite. O amor da sogra é diretamente proporcional ao prato da vez. Considere, pois, o bife de fígado uma verdadeira revelação edipiana.
E quando acaba o refrigerante das crianças, adivinhem quem se oferece para buscar mais? Com o veneno escorrendo do canto boca a velha dá as direções do supermercado à sua nora e a instrui a utilizar o elevador 'bem da esquerda'.
Retornando com as sacolas repletas de garrafas, a pobre rapariga indica o segundo andar à acsensorista. E ele estranhamente segue subindo até décimo primeiro andar inexistente. Ao questionar-se a respeito do que estava acontecendo, a porta se abriu. E ela supreendeu-se com a vista do bairro Bom Fim bem lá do alto.
Só lhe restou proferir um 'quero descer' espremido, antes que a moça acionasse uma alavanca.
E foi, assim, catapultada lá de cima, numa incrível experiência única e derradeira de uma emoção indescritível.
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