Enquanto ela definha algemada
Diante do bolo de 1 ano de aniversário
Ele alça vôos em plena liberdade
Fez suas escolhas
Nunca se importou
Tem certeza de que sabe o que é melhor para os dois
Depois de esparramar as cartas e jogá-las no chão
Tudo que ela deseja é que a vela
Solitária e reluzente enfiada no meio daquela montanha de farinha e chocolate
Se apague logo
Para que possa descansar em paz
Esgueirando-se com o braço suspenso
Deita-se no tapete aos pés da mesa
Pertinho da cadeira onde sentavam colados
Um sobre o outro
Enlaçados de frente
Com olhos vidrados e cheios de vida e desejo
Com bocas coladas e
Declarações sussurradas
De tempos alineares
Ali ela estava e ficou algemada
Enquanto ele saiu com o cachorro
E se auto abduziu
Deixou de existir e não avisou
Todos a olham com olhares de susto
O que faz ainda ali, presa àquela cadeira?
Àquele apartamento
Àquele casamento
Aos filhos
A louca
A bruxa
O que ela faz ali com seus personagens invisíveis?
Com suas esperanças ridículas
Imersa no gosto amargo daquele bolo azedo
Mofando...
Vivendo um amor inexistente
Uma mentira
Com unhas pretas descascando
Os dedos encolhendo nas algemas
Escorregando até o chão com o braço suspenso
Deita e se apaga num suspiro
A vela derramou um milhão de lágrimas
Por detrás daqueles óculos em forma de coração
Marcando de linhas endurecidas e rugas o bolo despadaçado
Os olhos vidrados agora sem vida
A boca entreaberta
Os sapos saltando garganta afora
Livres
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